Aula-12
O Princípio de Fermat, A Reflexão, A Refração, Reflexão interna total, Aplicação
Como temos observado, nas seções precedentes, a óptica geométrica se baseia em três princípios:
i)- A luz se propaga
em linha reta numa região uniforme
ii)- O ângulo
de incidência de um raio luminoso, em espelho, é igual ao
ângulo de reflexão
iii)- Pela lei
de Snell os ângulos de incidência e o de refração
de um raio luminoso, ao atravessar meios materiais com índices de
refração distintos é dado por : n1 sen
q1
= n2 sen q2 .
Mostraremos, a seguir, como estas três regras
podem ser obtidas de único princípio da física, conhecido
com o princípio de Fermat : A
luz para ir de um ponto A a um outro ponto B, o fará pela trajetória
cujo tempo de trânsito será menor do que o tempo de trânsito
para qualquer outra trajetória vizinha. O princípio
de Pierre Fermat foi enunciado por volta de 1650.
Fig.12.1- Trajetória de tempo mínimo
de acordo com o princípio de Fermat, para um meio homogêneo.
Em seções anteriores, estudamos o processo de reflexão de um raio luminoso, usando o princípio de Huygens juntamente com considerações geométricas. A seguir, estudaremos o mesmo fenômeno usando o princípio de Fermat.
Observando a figura 12.2(a) notamos que existem várias trajetórias possíveis, para um raio luz ir do ponto A ao B por reflexão no plano espelhar. Neste caso, qual será o caminho realmente percorrido pela luz?
Fig.12.2- Reflexão da luz por um
espelho
De acordo com o princípio de Fermat, um raio de luz percorre o trajeto entre dois pontos levando sempre o menor tempo possível. Com base nisto, responderemos a questão anterior. A figura 12.2 (b) e o teorema de Pitágoras mostram que o comprimento do trajeto de A até o ponto (P) de reflexão no espelho, é
e que o comprimento do trajeto até o ponto B é igual
.
O tempo de trânsito para ir de A até B é a soma dos tempos gastos pelos raios incidentes e refletidos;
.
No caso da luz se propagando com velocidade v ao longo do trajeto de A a B, o tempo gasto necessário é o comprimento total do trajeto dividido por v. Assim,
.
Como o valor de t depende "suavemente" (não há variações abruptas) do valor de x, o cálculo diferencial nos diz que, se houver um valor de x que minimize t, então dt/dx será igual a zero. Logo, calcularemos a derivada, de acordo com Fermat, obtendo.
.
Igualando a derivada a zero, resulta
.
O lado esquerdo dessa igualdade é exatamente sen(q1) , e o lado direito é exatamente sen(q2). Portanto temos que
.
Isto significa que, na reflexão o ângulo de incidência é igual ao ângulo de reflexão.
A relação dt/dx = 0 é o critério
de que t seja mínimo ou um máximo para o valor de x tirado
da relação. Você pode confirmar que o valor obtido
para x, na verdade dá um t mínimo calculando esse t e comparando-o
com o valor de t obtido para x = 0 e x = r.
Para deduzir a lei da refração, usando o princípio de Fermat, construímos a figura 12.3, como plano contendo a trajetória da luz perpendicular ao plano que separa as regiões de índices de refração n2 e n2. A luz propaga-se do ponto A na primeira região para um ponto a uma dist6ancia desconhecida x da base da perpendicular ao plano de separação entre os dos meios materiais. O comprimento da perpendicular é a. A luz continua o seu caminho na Segunda região até B, que está a um ponto B, situado a uma distância b do plano de separação.
De forma similar ao caso da reflexão, existem várias trajetórias possíveis para raio de luz ser refratado ao percorrer por dois meios materiais distintos, como mostra a figura 12.3.
Fig.12.3- Refração da luz
ao atravessar dois meios materiais transparentes e distintos
O tempo para percorrer do ponto A até B, é igual a soma dos tempos para percorrer de A até a superfície P e de P a B. Como os meios têm índice de refração distintos, a luz terá consequentemente velocidades diferentes. Seja estas velocidades no meio 1 e 2, iguais a v1 e v2 respectivamente. Assim,
.
Usando a definição de índice de refração para um meio material em relação ao vácuo temos que,
.
Observando a figura 12.3, por considerações geométricas tiramos que,
.
Portanto o tempo necessário para a luz se propagar ao longo do trajeto A e B é,
.
Calculando novamente dt/dx, obtemos
.
De acordo como princípio de Fermat a trajetória real a ser percorrida pelo raio de luz será aquela que satisfaz a relação dt/dx = 0. Isto significa que,
.
Usando relações geométricas tiradas da figura 12.3, podemos rescrever a equação acima em termos dos ângulos de incidência q1 e refração q2, como a seguir,
.
Esta equação é a própria lei de Snell, obtida
em seções anteriores usando o princípio de Huygens
e considerações geométricas.
As afirmações que se seguem dão
um resumo qualitativo do fenômeno da refração: Quando
um feixe de luz atravessa uma superfície passando para uma região
de índice de refração maior,
ele se curva aproximando-se da normal
à superfície. Quando um feixe de luz atravessa uma superfície
passando para uma região de índice
menor,
ele é encurvado, afastando-se
da normal á superfície. Este fenômeno é uma
conseqüência da reversibilidade dos raios luminosos em um processo
de refração, ou reversibilidade da lei de Snell.
Devemos ressaltar que os fenômenos de reflexão
e refração podem ocorrer simultaneamente. Isto significa
que parte dos raios luminosos serão refletido pela superfície
de contato e a outra parte refratada. Neste caso, tanto a reflexão
quanto a refração continuam obedecendo as leis encontradas
anteriormente.
Considerem-se dois meios materiais em contato, com índices de refração diferentes e sendo n1 > n2. Um raio de luz que atravessa do meio de maior índice de refração para o de menor, será refratado de forma que raios de luz se afastam da normal à superfície. Seja por exemplo, o meio n1 o vidro e n2 o ar. Ao aumentarmos o ângulo de incidência, com relaçãoà normal, perceberemos que consequentemente o ângulo de refração aumenta a uma proporção dada pela a Lei de Snell. Isto significa que deve existir um ângulo crítico que a partir dele não haverá mais refração e sim reflexão total.
Fig.12.4- Reflexão interna total
Este fenômeno é conhecido como reflexão interna total e está intimamente relacionado com a lei de Snell. Veja uma simulação deste caso na figura 12.4. Nesta figura, observamos que à medida que o ângulo de incidência aumenta, chega-se a uma situação em que o ângulo de refração é igual a 90o. Para ângulos de incidência maiores que este ângulo limite, não existe mais raios refratados, ocorrendo então a reflexão interna total.
Matematicamente o ângulo crítico qc pode ser determinado fazendo-se, na lei de Snell, o ângulo q2 = 90o , isto é;
.
Para o vidro e o ar, com índices de refração n1
= 1.50 e n2 = 1.00 , o ângulo crítico é
igual a qc = 41.8o. No
caso da interface água e ar, com índices de refração
n1 = 1.50 e n2 = 1.00 respectivamente, o ângulo
crítico é igual a qc
= 48.75o. A reflexão interna total não ocorre
quando a luz provém do meio de menor índice de refração.
Um raio de luz incide sobre uma face de um prisma de vidro imerso no ar, como mostra a figura abaixo. O ângulo q é escolhido de tal maneira que o raio emergente também faça um ângulo q com a normal à outra face. Deduzir um expressão para o índice de refração do material do prisma em relação ao ar.
Fig.12.5- Refração da luz
num prisma delgado
Observando a figura acima, encontramos que o desvio angular y é igual à soma dos dois ângulos internos opostos do triângulo aed.
Temos também que o ângulo abc é a = f /2, sendo f o ângulo do prisma. Substituindo este valor na equação acima obtemos
.
No ponto a , q é o ângulo de incidência e a o de refração. Aplicando a lei de Snell para o raio incidente, temos que
.
Usando os valores de q e a obtidos anteriormente, tem-se
Para o caso particular de um prisma delgado com desvio angular pequeno, isto é f e y pequenos temos que,
.
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Last Updated: Dec/12/2000
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